
Pacientes oncológicos e a vacina da dengue: entenda as diretrizes de segurança para imunossuprimidos. Saiba quem pode e quem não pode receber a vacina de vírus vivo atenuado e como se proteger dos surtos de arboviroses. Mantenha-se seguro neste verão.
Verão, Dengue e Câncer: Um Cenário Complexo
O verão chega, e com ele, não apenas o calor e as férias, mas também a preocupação com as arboviroses, especialmente a dengue. Em um país tropical como o nosso, os surtos são uma realidade anual. Para a população em geral, a chegada das vacinas é um alívio e uma importante ferramenta de saúde pública.
Mas e para o paciente oncológico?
Essa é uma pergunta crucial que recebo frequentemente no consultório. Pessoas em tratamento contra o câncer, ou que acabaram de finalizá-lo, têm um sistema imunológico que pode estar comprometido (imunossuprimido). A decisão de vacinar, nesse caso, vai além da simples proteção individual e exige uma análise cuidadosa dos riscos e benefícios.
A Natureza da Vacina da Dengue: Um Ponto Crucial
Para entender se um paciente oncológico pode ou não tomar a vacina da dengue, precisamos primeiro entender a natureza da vacina. As vacinas da dengue atualmente disponíveis (como a Dengvaxia e a Qdenga) são de vírus vivo atenuado.
O que isso significa?
Significa que elas contêm uma versão “enfraquecida” do vírus da dengue, que é capaz de estimular uma resposta imune robusta sem causar a doença grave. No entanto, para indivíduos com o sistema imunológico muito frágil, mesmo um vírus “enfraquecido” pode, teoricamente, causar uma infecção real ou outras complicações.
️ Paciente Oncológico e Vacinas de Vírus Vivo Atenuado: A Regra de Ouro
A principal diretriz para pacientes oncológicos em relação a vacinas de vírus vivo atenuado é clara:
Pacientes imunossuprimidos ATUALMENTE não devem receber vacinas de vírus vivo atenuado.
Isso inclui:
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Pacientes em Quimioterapia Ativa: Principalmente quimioterapias mielossupressoras (que afetam a medula óssea).
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Pacientes em Radioterapia Abrangente: Especialmente se envolver áreas que afetam o sistema imunológico (como irradiação de medula óssea ou grandes campos de linfonodos).
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Pacientes em Imunoterapia Específica: Alguns tipos de imunoterapia podem afetar a capacidade do sistema imune de lidar com o vírus atenuado.
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Pacientes em Altas Doses de Corticoides ou Outros Imunossupressores: Usados para controlar efeitos colaterais ou outras condições.
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Pessoas com Leucemias, Linfomas ou Mieloma Múltiplo Ativos: Independentemente do tratamento.
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Pacientes Transplantados de Medula Óssea ou Órgãos Sólidos: Pelo menos nos primeiros meses ou enquanto estiverem em imunossupressão intensa.
Mas, e os pacientes que FINALIZARAM o tratamento?
Aqui a personalização é a chave.
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Pós-Quimioterapia/Radioterapia: Geralmente, recomenda-se esperar de 3 a 6 meses (ou mais, dependendo do regime e da recuperação da medula óssea) após a finalização do tratamento antes de considerar uma vacina de vírus vivo atenuado. A recuperação do sistema imunológico é fundamental.
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Pós-Cirurgia Oncológica: Pacientes que realizaram apenas cirurgia e não fizeram quimioterapia/radioterapia adjuvante geralmente não são considerados imunossuprimidos e podem receber a vacina, mas sempre com liberação do oncologista.
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Pacientes em Hormonioterapia ou Terapias-Alvo Não Imunossupressoras: Muitos desses pacientes não são considerados imunossuprimidos de forma significativa e podem ser elegíveis, mas novamente, a avaliação individual do oncologista é indispensável.
A Decisão Sempre com o Seu Oncologista!
É impossível dar uma resposta genérica que se aplique a todos. A decisão de tomar a vacina da dengue (ou qualquer vacina de vírus vivo atenuado) enquanto você tem um histórico de câncer ou está em tratamento deve ser INDIVIDUALIZADA e SEMPRE discutida com o seu oncologista.
Ele ou ela é a pessoa mais qualificada para avaliar:
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Seu tipo de câncer e estágio.
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O tipo de tratamento que você está fazendo ou fez.
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O status do seu sistema imunológico (via exames de sangue).
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Seu risco individual de exposição à dengue (você vive em área de surto?).
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Os benefícios potenciais vs. os riscos da vacinação.
Além da Vacina: Proteção Ativa Contra a Dengue
Mesmo que você não possa tomar a vacina, ou enquanto aguarda a liberação do seu médico, as medidas de proteção contra o mosquito Aedes aegypti são ainda mais cruciais para o paciente oncológico:
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Elimine Focos: Retire água parada de vasos, pneus, calhas, garrafas, etc.
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Use Repelentes: Escolha repelentes eficazes, seguindo as recomendações de uso (geralmente com DEET, Icaridina ou IR3535).
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Roupas Protetoras: Use roupas claras que cubram a maior parte do corpo, especialmente ao ar livre.
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Telas e Mosquiteiros: Instale telas nas janelas e use mosquiteiros ao dormir, se necessário.
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Atenção aos Sintomas: Fique atento a febre alta, dores no corpo, dor de cabeça, dor atrás dos olhos e procure assistência médica imediatamente se sentir qualquer sintoma de dengue, informando sempre seu oncologista.
A proteção da sua saúde durante o tratamento oncológico é nossa prioridade máxima. A vacina da dengue é uma ferramenta valiosa, mas seu uso deve ser uma decisão informada e segura, sempre em conjunto com a sua equipe de saúde.

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