O açúcar alimenta o câncer?

Médico formado pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB); Especialista em Clínica Médica pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP); Especialista em Oncologia Clínica pelo Instituto do Câncer da Universidade de São Paulo (ICESP-USP); Atualmente atua como oncologista clínico na Hospital Saúde da Mulher (Belém-PA).

Talvez esta seja uma das perguntas mais frequentes que nós oncologistas ouvimos no consultório. É bastante comum pacientes com câncer, independente do tipo e do estadio, questionarem ao oncologista sobre a relação dos carboidratos da dieta e o controle da doença.

O açúcar alimenta o câncer?

A resposta curta e clara para esta pergunta é: NÃO! O açúcar não promove um crescimento mais acelerado do câncer e sua suspensão da dieta não melhora os sintomas da doença.

Esta pergunta foi novamente respondida por uma grande revisão sistemática de mais de 500 estudos clínicos sobre dieta cetogênica isocalórica e câncer, publicados entre 1980 e 2016 (1). Esta revisão foi apresentada no último congresso europeu de nutrição e concluiu que não houve observação da diminuição da progressão tumoral nem da melhora na qualidade de vida dos pacientes submetidos a esse tipo de restrição alimentar.

As células malignas, assim como as células normais do corpo, usam a glicose como fonte de energia para sua atividade, porém elas não são exclusivamente dependentes do carboidrato. Se o paciente corta o açúcar da dieta, as células cancerígenas conseguirão obter energia de outros substratos, como as proteínas e a gordura do corpo. Este é um dos motivos pelos quais pacientes com câncer avançado podem emagrecer tanto com a piora doença.

Além disso, a falta de açúcar prejudica as células normais, que perdem um importante substrato para obtenção de energia, o qual muitas vezes não consegue ser substituído adequadamente por outras fontes em todos os órgãos do paciente. De certa forma, ao cortar completamente o carboidrato da alimentação, o paciente passa a prejudicar mais suas células normais que as células cancerígenas. Essa privação nutricional acarreta prejuízos à imunidade e à performance status do paciente, dificultando ainda mais o tratamento. É bem possível dizer que retirar completamente carboidratos dietéticos sem uma adequada substituição dessa fonte energética não só não ajuda como pode atrapalhar sobremaneira a terapia para o câncer.

Um acompanhamento nutricional é fundamental para o tratamento. Porém cortar de modo completo quaisquer fontes nutricionais em um momento da vida quando o paciente precisa ter seu corpo funcionando com a melhor eficiência possível não é a melhor estratégia.

Para saber quais adaptações da dieta podem ter um efeito benéfico no tratamento, procure seu Oncologista ou um Nutricionista com experiência no tratamento de pacientes oncológicos.

 

(1)Erickson N. et al. Systematic review: isocaloric ketogenic dietary regimes for cancer patients. Med Oncol (2017) 34:72

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