Menos é mais: atualizações do Congresso Americano de Oncologia

Médico formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Especialista em Clínica Médica pela Universidade de São Paulo (USP). Especialista em Oncologia Clínica pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente atua como oncologista clínico no Hospital UDI - São Luís - MA, no Centro de Oncologia do Maranhão -São Luís - MA e no Hospital do Câncer Aldenora Bello - São Luís - MA.

Estudos publicados no Congresso Americano de Oncologia impactarão no tratamento de diversas mulheres com câncer de mama e de pacientes com câncer renal avançado.

As melhores condutas médicas são baseadas em evidências científicas. Neste início de junho acontece o maior congresso de oncologia do mundo, a ASCO (sigla em inglês para Sociedade Americana de Oncologia Clínica). É nesse evento que estudos de grande importância são apresentados, os quais ditam o manejo de diversos tipos de cânceres. Este ano dois estudos receberam um destaque especial: o TAILORx  que estudou câncer de mama, e o CARMENA, o câncer de rim. Seguem algumas considerações sobre eles.

 

Um número maior de mulheres não necessitará de quimioterapia.

 

A quimioterapia é um dos pilares do tratamento oncológico. Em mulheres com câncer de mama, a quimioterapia possui um papel fundamental em evitar a recorrência do câncer após a cirurgia, o que chamamos de tratamento adjuvante. No entanto, muitas mulheres com doença inicial recebiam quimioterapia na tentativa de diminuir ao máximo a chance de recorrência, mesmo diante da incerteza do benefício do tratamento nesses casos. Com os avanços tecnológicos, hoje dispomos de testes moleculares capazes de fornecer informações importantes sobre a necessidade da quimioterapia.

O estudo TAILORx  foi desenhado para avaliar a necessidade de quimioterapia em mulheres com câncer de mama receptor hormonal positivo e HER2 negativo com doença localizada, baseando-se no resultado do ONCOTYPE DX®. Este é um teste molecular realizado no tumor, que fornece um resultado que varia de 0 a 100 de acordo com agressividade do mesmo, onde valores maiores indicam maior chance de recidiva.

Resultados preliminares demonstraram que em mulheres com resultado abaixo de 10, o benefício da quimioterapia é inexistente, e acima de 25, o benefício é máximo. No entanto, existia uma faixa de 11 a 25 na qual o benéfico da quimioterapia era incerto. Para este grupo, os resultados atualizados demonstram a não inferioridade de se usar somente o tratamento hormonal padrão ao invés da quimioterapia seguida do tratamento hormonal.

Em resumo, o tratamento quimioterápico em mulheres com câncer de mama localizado, receptor hormonal positivo e HER2 negativo deve ser indicado quando o resultado do ONCOTYPE DX® for maior que 25. Esses dados são extremamente relevantes visto que uma grande parte das mulheres poderá ser poupada dos efeitos colaterais da quimioterapia sem nenhum prejuízo ao tratamento.

 

Nefrectomia não é mais necessária em pacientes com câncer renal metastático

 

O câncer renal possui uma resposta ruim à quimioterapia. Durante muitos anos não existiu um tratamento que efetivamente tratasse essa neoplasia quando em estágio metastático. No final da década de 90, dois estudos sugeriram algum benefício da nefrectomia (cirurgia de retirada do rim acometido pelo câncer) em pacientes com doença metastática. No entanto, com o surgimento das novas modalidades de tratamento, como terapia alvo e imunoterapia, houve ganhos expressivos de sobrevida e o benefício da nefrectomia tornou-se incerto.

O estudo CARMENA buscou responder essa pergunta quando comparou pacientes com câncer renal metastático que receberam somente sunitinibe (terapia alvo) com aqueles submetidos à nefrectomia seguida de sunitinibe. O resultado mostrou que realizar somente o sunitinibe é tão efetivo quanto realizar a nefrectomia seguida de sunitinibe.

Esse estudo é extremamente relevante e nos mostra que a medicina está em constante evolução. Antes o que era o padrão, realizar a nefrectomia para todos os pacientes com doença metastática, agora pode ser substituído somente pelas novas terapias oncológicas.

 

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